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Cocaína CV: Rotas de Colômbia por GO e MG Desafiam Direita"

Tráfico de cocaína fortalece Comando Vermelho via Goiás e Minas, sob Zema e Caiado. Críticas à aliança com Castro e apelo pela PEC da Segurança.

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Créditos: Reprodução/X

Rotas da Cocaína: De Colômbia a Rio, Tráfico Atravessa Goiás e Minas e Desafia Aliança de Governadores de Direita

A cocaína que inunda as favelas do Rio de Janeiro, fortalecendo o Comando Vermelho (CV) como uma hidra de violência urbana, não nasce nas vielas cariocas: ela viaja milhares de quilômetros da Colômbia, serpenteando por rotas fluviais amazônicas e rodovias centrais do Brasil, com Goiás e Minas Gerais como portões críticos que o crime organizado explora com impunidade alarmante. Um estudo recente da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgado nesta semana, mapeou 550 laboratórios clandestinos de refino de cocaína no país, com Goiás liderando com 125 unidades – quase um quarto do total – e Minas Gerais abrigando 34 pontos identificados, muitos em áreas rurais isoladas como a "Rota Caipira", que conecta a Bolívia ao Sudeste via BR-365. Esses números, que representam um faturamento estimado de R$ 30 bilhões em 2024 para o narcotráfico, expõem a fragilidade das fronteiras internas e alimentam críticas ferozes a governadores como Ronaldo Caiado (União Brasil, GO) e Romeu Zema (Novo, MG), rotulados como "extrema direita bolsonarista" por opositores, que questionam: se a polícia desses estados "não trabalha", por que eles sobem no palanque ao lado de Cláudio Castro (PL-RJ) sobre o caixão de vítimas de operações como a Contenção, que deixou 132 mortos no Rio?


A rota é um labirinto letal: cocaína produzida em plantações colombianas, controladas por cartéis como o Clan del Golfo, segue o "corredor do Solimões" – rio amazônico que corta o Brasil até o Atlântico – ou entra por terra via Peru e Bolívia, sendo processada em "cozinhas" goianas antes de rumar para portos como Itaguaí (RJ), onde o CV exporta para Europa e África disfarçada em contêineres de café. Relatórios da Abin, divulgados em outubro, confirmam alianças entre CV, PCC e grupos colombianos, com o Brasil como hub de trânsito para 70% da cocaína global que chega à Europa. Em 2025, apreensões em Goiás e Minas somam vitórias pontuais: a Polícia Rodoviária Federal (PRF) flagrou R$ 100 milhões em cocaína na BR-040 (MG) em outubro, a maior da história mineira, e uma operação interestadual em 23 de outubro cumpriu 22 mandados em GO, MG e Rondônia, confiscando 500 kg de drogas. Mas críticos, ecoando posts virais no X como o de @damottaff – que acumula 3.200 curtidas com a frase "A polícia desses estados não trabalham?" –, acusam os governos de inação seletiva: enquanto Zema e Caiado celebram reduções de 15% em homicídios, o tráfico flui livre, com laboratórios em fazendas "protegidas" por milícias locais.


Essa denúncia ganha tração política em um ano eleitoral pré-2026, onde a aliança de direita – selada na quinta-feira com o lançamento do "Consórcio da Paz" no Palácio Guanabara – une Castro, Zema, Caiado, Ratinho Jr. (PR), Jorginho Mello (SC) e outros seis governadores em uma frente contra o crime organizado. A pauta inclui integração de inteligência e trocas de experiências, mas opositores como o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) veem hipocrisia: "Palanque sobre caixões de vítimas do Alemão, enquanto a droga passa por seus territórios sem freio. Onde está a ação?". A megaoperação no Rio, que matou 132 (incluindo civis e "Japinha do CV") mas deixou Doca foragido, serviu de catalisador para o consórcio, com Castro propondo recursos federais compartilhados. Caiado defendeu em coletiva: "Nossos estados combatem o mal na raiz, com 2.700 prisões em GO só em 2025", citando a Operação FICCO que apreendeu 2,7 toneladas de drogas em setembro. Zema, por sua vez, destacou 34 laboratórios desmantelados em MG, mas admite que a "Rota Caipira" exige mais investimento federal em fronteiras.


No centro do debate, a PEC da Segurança Pública (PEC 18/2025), enviada ao Congresso em abril pelo governo Lula, avança na CCJ da Câmara desde julho e promete status constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), ampliando o papel federal na coordenação contra o narcotráfico transnacional. O texto, que enfrenta resistências de estados por "invasão de competências", padroniza ações integradas, cria um fundo nacional de R$ 10 bilhões para inteligência e permite intervenção federal em rotas críticas como a amazônica. Especialistas como o professor Rafael Alcadipani (FGV) elogiam: "É positivo para romper silos, mas esbarra em conflitos de poder – estados querem autonomia, mas o crime ignora fronteiras". Aprovada em plenário, a PEC poderia qualificar associações territoriais com penas de até 30 anos, atacando o CV na logística, não só no varejo.


Enquanto o "Consórcio da Paz" brilha em fotos de união, o Brasil real sangra: 178 operações federais em 2025, mas o CV, com Doca à solta, reorganiza-se. A cocaína colombiana não para – ela fortalece facções porque rotas como Goiás e Minas permanecem porosas, apesar de ações pontuais. Para romper o ciclo, a PEC urge, mas sem vontade política além de palanques, o caixão das vítimas segue como pano de fundo para promessas vazias. O Rio, e o país, merecem mais que discursos: merecem uma guerra inteligente, não letal.

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