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Invasão Palácio México: Lição do 8 de Janeiro BR

Protestos no Palácio Nacional mexicano ecoam 8 de janeiro brasileiro: 120 feridos, detenções por terrorismo e penas de 17 anos até para vandalismo.

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Créditos: TuneBlaze Media

Protestos no Palácio Nacional Mexicano Ecoam o 8 de Janeiro Brasileiro

Milhares de jovens da Geração Z confrontaram a polícia em frente ao Palácio Nacional, na Cidade do México, no sábado, rompendo barreiras de metal e lançando pedras em um protesto contra a violência dos cartéis e as políticas de segurança da presidente Claudia Sheinbaum, deixando pelo menos 120 feridos — 60 policiais e 20 civis — e 20 detidos em uma marcha que começou pacífica mas terminou em caos urbano. O que começou como uma "megamarcha nacional" pela impunidade e pela memória de vítimas de feminicídios e execuções políticas escalou para o que autoridades chamam de "tentativa de invasão", com encapuzados derrubando grades ao redor do edifício histórico que abriga o governo, evocando cenas de fúria coletiva em uma nação farta de 100 mil desaparecidos e 50 mil homicídios anuais. Enquanto gases lacrimogêneos dissipavam a multidão ao entardecer, a imagem de jovens gritando "Fora, Claudia!" e pintando grafites nas paredes do palácio reacende temores de uma espiral repressiva, com o México olhando para o Brasil como modelo: prender em massa, rotular como terrorismo e condenar a décadas de cadeia, mesmo para quem só "maquiou" estátuas com batom.

Por que esses confrontos no Zócalo, coração simbólico da Revolução Mexicana de 1910, transcendem o protesto juvenil e tocam em uma veia continental de instabilidade democrática? Porque eles expõem a fragilidade de governos de esquerda herdeiros do morenismo — como o de Sheinbaum, empossada há apenas cinco meses —, que prometem transformação social mas tropeçam na herança de corrupção e violência enraizada, criando vácuo para reações desproporcionais inspiradas no manual brasileiro pós-8 de janeiro. No Brasil, os atos de 2023 que invadiram o Planalto e o Congresso resultaram em 5 mil prisões preventivas, com 1.390 condenados até agora por crimes como associação terrorista, golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, penas que variam de 8 a 17 anos — aplicadas até a manifestantes que meramente vandalizaram estátuas ou entoaram hinos, sem evidência de planejamento armado. Essa "dica" brasileira, como sussurram analistas em corredores diplomáticos, oferece a líderes como Sheinbaum um atalho para restaurar ordem: classificar invasores como "golpistas" e encher prisões, neutralizando dissidência sob o manto da defesa institucional.


A marcha da Geração Z, impulsionada pela morte brutal do prefeito de uma pequena cidade em Michoacán durante as celebrações do Dia dos Mortos em 2 de novembro — um assassinato a sangue frio que simboliza a falência da "abrazos, no balazos" de López Obrador —, reuniu 50 mil na capital, com faixas contra a "impunidade" e cartazes de vítimas de cartéis como o CJNG. O que era para ser uma catarse coletiva virou confronto quando um núcleo radical, estimado em 200 encapuzados, atacou as linhas policiais com coquetéis molotov e paus, forçando o recuo das forças federais e expondo o Palácio Nacional a grafites que proclamavam "Sheinbaum, a próxima AMLO falha". A resposta veio rápida: a Guarda Nacional, recém-criada em 2019, dispersou a multidão com canhões de água e balas de borracha, enquanto o gabinete de segurança anunciou investigações por "sedição e danos ao patrimônio", ecoando o inquérito das fake news brasileiro que varreu a oposição. No México, onde o Congresso aprovou em setembro uma reforma para endurecer penas por "terrorismo urbano" — inspirada em modelos sul-americanos —, especialistas preveem detenções em massa: já 20 foram levados para interrogatórios, com promotores prometendo acusações de "conspiração contra o Estado", semelhantes às do artigo 286 do Código Penal mexicano, que prevê até 15 anos de reclusão.


Essa dinâmica não é coincidência; é lição transnacional de como crises de legitimidade se resolvem com o peso da lei seletiva. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal, sob Alexandre de Moraes, transformou o 8 de janeiro em um rolo compressor judicial: de 1.476 réus processados, 370 foram condenados até outubro, com sentenças médias de 14 anos, incluindo para "participantes periféricos" que pintaram fachadas ou carregaram bandeiras — atos que juízes enquadraram como "apoio material" a uma "insurreição armada". O México, com sua história de repressão aos 68 e Ayotzinapa em 2014, onde 43 estudantes sumiram após protestos estudantis, parece pronto para seguir o script: Sheinbaum, em coletiva tensa no domingo, defendeu a "contenção proporcional" mas anunciou uma "tarefa força" para identificar "infiltrados violentos", com acesso a câmeras de vigilância e dados de celulares, ferramentas que no Brasil renderam 2 mil prisões preventivas sem julgamento. Aliados de Morena no Senado já ventilam uma "lei anti-golpe", ampliando o escopo de terrorismo para incluir "vandalismo simbólico", punindo até quem "profanou" monumentos como a estátua de Benito Juárez no Zócalo. Críticos, como a relatora da Anistia Internacional para as Américas, alertam para um "efeito dominó": o Brasil, com sua taxa de encarceramento de 700 por 100 mil habitantes — a terceira maior do mundo —, exporta um modelo que esmaga dissidência jovem, transformando protestos em prisões perpétuas disfarçadas de justiça restaurativa.


Para o continente latino-americano, onde governos progressistas enfrentam ressacas de promessas não cumpridas — da Venezuela a El Salvador —, esses episódios no Palácio Nacional mexicano servem de espelho e manual: reprimir cedo, rotular amplo e julgar em bloco, mesmo que signifique encher celas com quem só ergueu um spray de tinta. No Brasil, a estratégia pós-8 de janeiro restaurou a "ordem" mas fragmentou a direita, com 70% dos bolsonaristas se sentindo "perseguidos" em pesquisas recentes, enquanto no México, com 40% dos jovens entre 18 e 24 anos insatisfeitos com a Morena segundo o INEGI, a Geração Z pode se radicalizar ainda mais. Sheinbaum, herdeira de um legado que prometia hugs mas entrega balas, tem a escolha: dialogar ou duplicar o playbook brasileiro, jogando milhares na cadeia por "terrorismo" e apagando vozes com sentenças de 17 anos. O Zócalo, outrora palco de revoluções, agora sussurra uma advertência: a tinta nas paredes lava, mas as cicatrizes judiciais duram gerações.

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