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Tornado EF3 Rio Bonito: Desmatamento Agrava

Tornado devasta Rio Bonito do Iguaçu em 2025: estudo de 1978 alertava risco com desmatamento agro no sul do Brasil. Leis de 1984-2020 removeram mata.

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Créditos: TuneBlaze Digital Media

Tornado EF3 Devasta Rio Bonito do Iguaçu: Desmatamento e Alerta Científico de 1978 Ganham Destaque

Um tornado de categoria EF3, com ventos estimados em 250 km/h, arrasou cerca de 80% da área urbana de Rio Bonito do Iguaçu, no sudoeste do Paraná, na tarde de 7 de novembro, deixando um rastro de destruição que inclui pelo menos seis mortes, mais de 750 feridos e milhares de desalojados. O fenômeno, um dos mais intensos já registrados no Sul do Brasil, integrou uma supercélula gerada por uma frente fria que varreu o estado, derrubando casas, postes e árvores em um município de 14 mil habitantes a 380 km de Curitiba. Enquanto equipes de resgate da Defesa Civil e Bombeiroscombatem os escombros sob chuvas intermitentes, imagens de satélite revelam um cenário agravado: solos expostos e campos abertos onde outrora se erguia mata nativa, ecoando um estudo de 1978 que alertava para o risco de criar "corredores de tornados" com a expansão agropecuária descontrolada na região.


Por que esse evento transcende o mero capricho climático? O Sul do Brasil, já propenso a tempestades severas devido à convergência de massas de ar úmido e seco, viu sua vulnerabilidade ampliada por décadas de intervenção humana. O estudo de 1978, conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e publicado em relatórios iniciais sobre dinâmica atmosférica regional, previa que a remoção sistemática da vegetação nativa — como florestas de araucária e campos úmidos — criaria condições ideais para a formação e intensificação de tornados. A mata atuava como barreira natural, dissipando ventos e resfriando o solo; sem ela, áreas planas e aquecidas fomentam supercélulas mais potentes, com rotação vertical que gera funis como o de Rio Bonito. Hoje, dados do MapBiomas confirmam que o Paraná perdeu 25% de sua cobertura vegetal nativa entre 1985 e 2022, com o agronegócio responsável por 97% das supressões, transformando o bioma em um vasto "corredor" de turbulência.


A tragédia de Rio Bonito do Iguaçu não é um raio em céu azul, mas o ápice de uma trajetória legislativa que priorizou expansão agrícola sobre alertas ambientais. A partir de 1984, a Lei Estadual nº 8.014 no Paraná facilitou a preservação seletiva de solos agrícolas, mas abriu brechas para o desmatamento em áreas de mata ciliar e campos nativos, sob o pretexto de modernização rural. Essa norma, regulamentada por instruções subsequentes, coincidiu com o boom da soja e pecuária, que entre 1985 e 2020 converteram 64 milhões de hectares de vegetação em pastagens e lavouras no país — 33% disso nos últimos 38 anos, segundo o Observatório do Clima. O Código Florestal de 2012, sancionado após debates acalorados na Câmara, anistiou desmates até 2008 e reduziu obrigações de reserva legal em biomas como o Pampa e Cerrado, permitindo a supressão de até 22 milhões de hectares equivalentes ao tamanho do Paraná. No sudoeste paranaense, epicentro do evento, o município de Rio Bonito liderou o desmatamento da Mata Atlântica entre 1985 e 2015, removendo 24,9 mil hectares — mais do que qualquer outro na região, conforme inventários da SOS Mata Atlântica. Políticas como o decreto de 2015, que declarou áreas campestres como "uso consolidado", aceleraram essa conversão, eliminando barreiras naturais e elevando temperaturas do solo em até 5°C, o que potencializa a convecção atmosférica e a formação de mesociclones.


Especialistas consultados pelo Simepar e pela UEPG reforçam a conexão direta: o desmatamento não só remove dissipadores de vento, mas altera o microclima local, aquecendo superfícies e injetando mais umidade na atmosfera baixa — combustível para tornados EF3, raros no Brasil mas em ascensão. Relatórios da Marinha do Brasil e do INPE, baseados em cartas sinópticas de 1959 a 2018, já registravam o Paraná como hotspot de eventos severos, com 400 tornados documentados; o de 2025, porém, destaca-se pela escala, destruindo 90% das estruturas urbanas e interrompendo até o Enem local. O governador Ratinho Junior decretou emergência, mobilizando 50 bombeiros e drones para buscas, mas vozes como a do climatologista Francisco Assis Mendonça, da UFPR, alertam: "O avanço do agro e o aquecimento oceânico eliminam anteparos naturais, tornando eventos como esse mais frequentes e letais". No X, debates virais ecoam o estudo de 1978, com usuários compartilhando imagens de satélite que contrastam campos monocultores com tocos de árvores, questionando: "Avisos de 47 anos atrás ignorados — agora o 'olho que tudo vê' registra tudo".


Esse furacão humano-climático expõe fissuras profundas: enquanto o agronegócio impulsiona 25% do PIB nacional, sua expansão desenfreada — apoiada por bancadas ruralistas que aprovaram projetos como o PL 364/2019, revogando proteções a campos nativos desde 1934 — agrava desastres que custam bilhões em reconstrução e vidas. No Paraná, onde 39% do território é agrícola, o solo exposto não só facilita ventos de 250 km/h, mas erosão e inundações subsequentes, como visto nas enchentes gaúchas de 2024, ligadas à substituição de mata por soja. A auditoria do MapBiomas revela que 72,7% do avanço agrícola ocorreu sobre áreas já antropizadas, mas os 27,3% restantes vieram direto da vegetação nativa, especialmente no Pampa paranaense. Com a COP30 batendo à porta em 2025, o Brasil enfrenta um dilema: honrar compromissos de desmatamento zero até 2030, como prometido pelo MMA, ou repetir erros que transformam alertas científicos em epitáfios.


Enquanto máquinas removem escombros em Rio Bonito do Iguaçu e famílias buscam abrigo em tendas improvisadas, o tornado serve de sirene global: a remoção de barreiras verdes não é progresso, mas convite à fúria dos céus. Estudos como o de 1978, ignorados em nome do curto prazo, clamam por legislação que integre agro sustentável — com zoneamento ecológico-econômico e incentivos à bioeconomia — a alertas de satélite que não mentem. O solo quente e os campos abertos de hoje são o preço de amanhã; hora de replantar, não só árvores, mas responsabilidade.


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