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Operação CV Rio: Fuga de Doca Questiona Sucesso de Castro

Doca escapa e CV domina áreas após megaoperação com 121 mortos. Padrão de Cláudio Castro repete: ação letal sem resultados duradouros no Rio, 30/10/25

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Créditos: Reprodução/X
Operação Contra Comando Vermelho no Rio: Fuga de Doca e Domínio Intacto Questionam 'Sucesso' de Cláudio Castro

A poeira da Operação Contenção ainda paira sobre os complexos do Alemão e da Penha, mas o eco dos tiros dá lugar a um silêncio incômodo: o chefe do Comando Vermelho, Edgar Alves de Andrade, o Doca – alvo principal da ação mais letal da história do Rio, com 121 mortos confirmados –, escapou ileso, protegido por uma rede de 70 homens armados que o blindou durante o cerco policial. Quase 48 horas após o fim da ofensiva, que deixou 81 presos e 93 fuzis apreendidos, a facção mantém o controle absoluto das áreas, com barricadas removidas mas olheiros no alto das morros e pontos de venda de drogas operando como se nada tivesse acontecido. Essa realidade nua e crua desmente a narrativa oficial de "sucesso avassalador" do governador Cláudio Castro, expondo um padrão repetitivo que transforma megaoperações em espetáculos de curto prazo, deixando a cidade exposta a retaliações e um vácuo de poder que o CV preenche com maestria.


A operação, deflagrada na terça-feira com helicópteros, blindados e 2 mil agentes das Polícias Civil e Militar, prometia desarticular a estrutura do CV na Zona Norte, incluindo Doca, conhecido como o "número 2" da facção e responsável por ordens de execuções como o duplo homicídio de um casal no Alemão em setembro. Juízes decretaram prisões contra mais de 60 suspeitos, citando rotinas de tortura e controle armado nos complexos, mas o mandado contra Doca – com recompensa de R$ 100 mil oferecida pela polícia – virou fumaça quando ele driblou o cerco, fugindo para o interior fluminense ou possivelmente para Minas Gerais, onde fronteiras porosas facilitam reorganizações. Moradores, que recolheram mais de 50 corpos na mata e os levaram à Praça da Penha para identificação, relatam o mesmo script de sempre: invasão barulhenta, tiroteios que matam inocentes e traficantes periféricos, e uma retirada que devolve o território ao CV, agora mais raivoso e recrutador.


Esse roteiro não é novidade em 2025, um ano que já viu 178 ações federais contra o tráfico, com 210 prisões e 10 mortos em confrontos menores, mas nenhuma que abale as raízes do Comando Vermelho. Em agosto, explosões de caixas eletrônicos em Niterói renderam R$ 2 milhões ao grupo; em setembro, invasões ao Morro do Borel na Tijuca ceifaram 12 vidas em disputas com o Terceiro Comando Puro; e no fim de semana pré-operação, o CV consolidou pontos na Maré com granadas caseiras. Cláudio Castro, que escolhe "inimigos" como o CV para desviar atenções de escândalos como superfaturamentos em UPPs, repete o ciclo: anuncia vitórias midiáticas – quatro policiais mortos viram "heróis" em comunicados –, mas ignora o pós-ação, onde a letalidade extrema (comparada ao Carandiru carioca por especialistas da Unesp) não garante paz, apenas mais sangue. O ministro da Justiça, Flávio Dino, divulgou balanços federais que mascaram falhas estaduais, enquanto o MPF exige perícias urgentes em corpos para investigar execuções sumárias.


Para o Rio, atolado em 20% menos homicídios graças a UPPs revividas, mas ainda refém de facções que exportam cocaína via portos como Itaguaí, essa "vitória" é ilusória. Doca foragido significa retaliações iminentes – sequestros de delegados como o de julho podem se repetir –, e o CV, hidra de prisões nascida nos anos 1970, reorganiza-se com velocidade assustadora. Críticos como o coronel reformado José Vicente alertam que confrontos inevitáveis viram rotina sem inteligência preventiva, e famosos da Penha, como Ludmilla e Oruam, ecoam o luto nas redes: "Quantas vidas mais para nada mudar?". O governo federal acelera leis para penas de 30 anos em associações territoriais, mas sem romper o ciclo de Castro – megaoperação, holofote, abandono –, o Rio segue em risco, um barril de pólvora onde o "sucesso" é só o intervalo entre explosões.

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