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| Créditos: Reprodução/X |
MPRJ Pede Prisão Preventiva de Chefes do Comando Vermelho por Atrasar Processo de Homicídio de 23 Anos e Proteger Marcinho VP
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) acionou a Justiça nesta terça-feira com um pedido de prisão preventiva contra três líderes do Comando Vermelho (CV), Marcinho PV, My Thor e Claudinho da Mineira, acusados de orquestrar manobras para protelar um antigo processo de homicídio que arrasta-se há quase 23 anos, com o objetivo explícito de garantir a liberdade de Marcinho VP, o patriarca da facção, previsto para sair da prisão em 2026. A denúncia, protocolada na 2ª Vara Criminal de São João de Meriti, expõe uma rede de interferências judiciais que vai desde testemunhas coagidas até falsos recursos, revelando como o CV, mesmo enfraquecido por operações recentes como a Contenção no Alemão e Penha, continua a manipular o sistema para preservar sua cadeia de comando. Essa investida do MPRJ chega em um momento de escalada contra o crime organizado no Rio, onde o grupo já perdeu 132 vidas em ações policiais, mas mantém tentáculos que desafiam a impunidade.
O caso remonta a 2002, quando um homicídio brutal em uma comunidade de Meriti vitimou um rival do CV, desencadeando um inquérito que se arrasta por adiamentos cíclicos: perícias perdidas, audiências remarcadas e testemunhas que somem ou mudam depoimentos sob ameaça. Marcinho PV, cujo nome real é Marcos Antônio da Silva, é apontado como o cérebro por trás das táticas de procrastinação, usando contatos internos na facção para intimidar promotores e advogados de defesa – que, ironicamente, recebem "instruções" para entrar com embargos protelatórios. My Thor (Wellington da Silva) e Claudinho da Mineira (Cláudio Roberto da Conceição), ambos foragidos desde a operação de outubro, teriam coordenado o esquema via mensagens criptografadas, com áudios interceptados pela Polícia Civil revelando frases como "Segura isso até o velho sair, senão a casa cai". O alvo final é Marcinho VP, o lendário fundador do CV nos anos 1970, condenado a mais de 100 anos por múltiplos crimes, mas com progressão de regime iminente graças a uma liminar do STF que reduz sua pena efetiva.
Promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) argumentam que o trio atuou como "guardiões do atraso", garantindo que o processo não avance para condenações que poderiam revogar benefícios de Marcinho VP. Evidências incluem logs de celular que ligam os réus a visitas carcerárias suspeitas e depósitos bancários de R$ 150 mil em contas de advogados cooptados, além de depoimentos de delatores premiados que descrevem reuniões em presídios federais onde as estratégias eram traçadas. "É uma afronta ao Estado Democrático de Direito: o CV não só mata nas ruas, mas mata a justiça nos tribunais", declarou o procurador-geral Ricardo de Castro em coletiva, ecoando críticas a um sistema sobrecarregado que vê 40% dos processos de homicídios no Rio prescreverem por demora. O juiz responsável, ainda sem decisão, tem 72 horas para analisar o pedido, sob pressão de audiências públicas marcadas para esta semana.
Essa ofensiva do MPRJ se insere em uma cruzada maior contra o CV, que domina 60% das favelas cariocas e fatura bilhões com rotas de cocaína da Colômbia via Goiás e Minas Gerais. Após a megaoperação que ceifou 132 vidas – incluindo boatos sobre a "Japinha do CV", que nossa cobertura pioneira desmistificou –, o grupo retaliou com invasões territoriais, como a recente tomada de pontos na Maré. Governadores aliados, como Cláudio Castro (RJ), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO), defendem o "Consórcio da Paz" para integração de forças, mas opositores como Guilherme Boulos acusam seletividade: "Enquanto o CV atrasa justiça, as vítimas esperam em fila". O MPRJ, que já obteve condenações contra 15 milicianos em 2025, aposta nessa prisão para acelerar o processo e impedir a soltura de Marcinho VP, cuja liberdade poderia reacender guerras faccionais.
Para o Rio, refém de um ciclo onde o crime dita o ritmo dos tribunais, esse pedido é um teste de resiliência: prender os proteladores pode ser o antídoto para uma impunidade que dura gerações, ou apenas mais um capítulo em uma saga de 23 anos sem fim. Com o STF monitorando de perto, a decisão judicial pode redefinir o equilíbrio de poder nas sombras – e salvar, enfim, a memória das vítimas esquecidas.
