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Créditos: Reprodução/X |
Nicolas Sarkozy Entra na Prisão: Condenação por Conspiração Criminal Expõe Legado Manchado de Financiamento Líbio
Nicolas Sarkozy, o ex-presidente francês que outrora pavoneava-se pelos salões do Eliseu com promessas de uma França hipermoderna, cruzou o portão da notória prisão de La Santé em Paris nesta segunda-feira, iniciando uma pena de cinco anos por conspiração criminal ligada a um esquema de financiamento de campanha ilegal oriundo do regime de Muammar Gaddafi. Aos 70 anos, Sarkozy – o primeiro líder francês a pisar em solo carcerário após deixar o cargo – manteve a postura desafiadora ao chegar, negando veementemente a culpa em um breve depoimento aos repórteres: "Esta é uma injustiça que a história corrigirá". O veredicto, proferido pelo Tribunal Penal de Paris em 25 de setembro, o absolveu de receber pessoalmente os milhões de euros da Líbia, mas o condenou por orquestrar uma rede de corrupção com assessores próximos, um golpe que mancha irrevogavelmente sua imagem de reformador implacável.
O escândalo remonta à campanha presidencial de 2007, quando Sarkozy, então ministro do Interior, surfou uma onda de otimismo para derrotar Ségolène Royal e ascender ao poder. Investigadores franceses, em uma operação que durou mais de uma década, desenterraram evidências de que o regime de Gaddafi – o ditador líbio assassinado em 2011 durante a Primavera Árabe – injetou até 50 milhões de euros em malas de dinheiro e transferências ocultas para impulsionar a vitória de Sarkozy. Embora o tribunal tenha rejeitado a acusação de recebimento direto de fundos, a condenação por "associação de criminosos" – envolvendo o advogado Thierry Herzog e o magistrado Gilbert Azibert – pintou um quadro de manobras sombrias: trocas de favores judiciais em troca de influência, incluindo promessas de um cargo na ONU para Azibert. Sarkozy, que já cumpria prisão domiciliar eletrônica por um caso separado de corrupção em 2021, viu sua apelação rejeitada na semana passada, forçando-o a trocar o luxo de sua mansão em Neuilly-sur-Seine pelas celas de La Santé, onde outrora detidos como Pablo Picasso e Alfred Dreyfus definiram capítulos da história francesa.
Essa reviravolta não choca apenas pela ironia – Sarkozy, o arquiteto de uma lei anti-imigração dura que moldou a França de hoje, agora enfrenta o sistema que ele ajudou a endurecer –, mas pelo timing político. Com Emmanuel Macron navegando águas turbulentas à frente das eleições de 2027, o caso ressuscita debates sobre a "República das elites", onde ex-líderes como Jacques Chirac escaparam de punições semelhantes por imunidades implícitas. Gaddafi, que em 2007 foi recebido com pompa em Paris por Sarkozy, deixou um legado de petróleo e paranoia: a França liderou a intervenção da OTAN que o derrubou em 2011, uma decisão que agora parece entrelaçada com dívidas financeiras não pagas. Familiares e aliados de Sarkozy, incluindo a esposa Carla Bruni, denunciam o julgamento como "vingança política", mas promotores insistem que as provas – gravações telefônicas e testemunhos de intermediários líbios – são irrefutáveis, custando ao erário francês milhões em investigações transnacionais.
Enquanto Sarkozy inicia sua sentença – com possibilidade de conversão para prisão domiciliar após dois anos, dada sua idade –, o episódio força uma reflexão dura sobre poder e accountability na Europa. A França, berço da Revolução que guilhotinou reis, agora encarcera presidentes, um marco que pode desencorajar ambições futuras ou, ao contrário, purgar um sistema podre. Para o homem que sonhava com uma "França que ganha", o portão de La Santé se fecha como um veredicto final: nem mesmo os hiperativos escapam da gravidade da lei.