![]() |
Oruam - Reprodução: Revista Dazed |
O Funk é o teu vizinho barulhento, meu irmão.
Imagina só, tu estás na tua, tranquilo, a escutar aquelas cenas internacionais, o R&B, aquele Hip-Hop americano que te faz sentir boss. De repente, bum! Chega um som do Brasil que te atinge na cara e no corpo. É alto, é direto, é rápido. Não pede licença a ninguém.
Isto é o Funk Carioca.
O Funk é aquele puto da favela que não tinha nada e, de um dia para o outro, aparece no teu feed, no teu TikTok, nas playlists de Oruam e MC Poze. E não veio de avião de primeira classe, não. Veio na caravana da batida, construído na base de muito suor e criatividade pura.
Enquanto a alta sociedade tentava esconder este som, chamando-o de "coisa de bandido" ou "música que estraga a juventude", o Funk estava a fazer o que sempre soube: a resistir e a contar a vida de quem está no escuro, de quem nunca teve microfone.
Tu sabes como funciona. O Funk nasceu onde a luz do governo não chegava, mas onde a chama da criação era forte. Era o som das competições de DJ nos bailes, onde o único luxo era a força para fazer a caixa de som berrar. Era uma batida crua, letra que falava da vida sem filtros, sem enfeites.
Mas o mundo é grande, meu cotchinho. E o que acontece quando um ritmo que te mexe tanto o corpo esbarra na tecnologia, no streaming e, principalmente, no Trap?
O Trap, com a sua lentidão pesada, os seus 808s fundos e a sua obsessão por guita e aparecer, veio dos becos americanos. No início, parecia que não ia dar certo. Mas o Funk brasileiro, sempre à procura de se reinventar, olhou para o Trap e pensou: "Se eu meter esta cadência aqui, ninguém me segura!"
Foi aí que nasceu o Trapfunk.
Não foi só uma junção musical, estás a ver? Foi uma jogada de mestre para o palco global. O Trap deu ao Funk uma nova capa, mais com postura internacional, com mais style no instrumental. O Funk deu ao Trap brasileiro a velocidade de dança que faltava, aquela coisa que te agarra e te faz mexer o corpo na hora.
E o que deu? Estrondo.
Hoje, o Trapfunk já não é só do Brasil. É do mundo. É o som que aparece nos desafios do Instagram, é a música que o DJ da discoteca toca quando quer ver a pista a incendiar. Os MCs brasileiros, que há uns anos batalhavam para gravar um CD, estão agora a fechar contratos com marcas de luxo, a viver na city e a aparecer nas revistas.
O que é que tiras daqui?
Tiras que o teu sucesso vai criar inveja, mas ele é imparável quando tem verdade e ritmo. Assim como a vizinhança olhou para a tua mansão e disse que vieste "estragar a paz", a crítica olhou para o Funk e disse que ele vinha "estragar a música".
Mas o Funk — e agora o Trapfunk — nunca deu ouvidos. Ele avançou, partiu as regras, tomou conta do streaming e provou que a cultura que faz a diferença nasce no chão, no asfalto quente, onde as histórias são verdadeiras e as batidas são mais firmes que qualquer juízo.
Não tentes meter o Funk em ordem, deixa-o desorganizar o mundo.
E tu? O que é que achas mesmo? Este ritmo é só fase ou veio para ficar e escrever uma nova história na música? Manda a tua opinião aí, vamos mandar essa conversa!